O clube desportivo fazia 93 anos e por insistência do meu pai fui ao
almoço. Desculpo a sua teimosia para que se certifique que as pessoas da
sua idade ainda se lembram de mim. Que a terra não me esqueceu
esquecendo-se dele também.
Talvez envaidecido lhes diga que eu tenho uma
vida bonita. O meu pai é assim, gosta de classificar os outros onde as
pessoas por si mais consideradas têm uma vida bonita. Seja lá o que isso
for expulsa das nossas conversas os erros que cometo mas permite-lhe
sonhar comigo a cores.
Cheguei um pouco mais cedo e fiz tempo. Na
porta de entrada fui perdendo a conta ao que a minha visão absorvia e às
memórias longínquas que o meu cérebro rebuscava. De todas as vezes passadas,
incontáveis, que saí por aquela porta deixei sempre lá dentro um pouco
de mim. Desta fui buscar um pouco do que era meu.
- Obrigado, ouvi.
Amparei-o para subir o lanço de escadas segurando-o pelo braço direito
do seu corpo. Na mão esquerda trazia pendurada a bengala que o ajudava a
carregar os encargos que a vida lhe colocou nos joelhos.
- Conheço-te de
algum lado, afirmou convicto.
- Sim, de certeza que me conhece, respondi.
- Já sei quem tu és!. Alegrou-se depois de lhe explicar quem eram os meus
pais.
- Não deveria eu conhecer um filho cá da terra. Concluiu dando a
ideia que nos conhece a todos.
Durante muito tempo não percebi o
significado de “filho da terra”. Só depois do meu coração me ter
explicado é que percebi a profundidade.
Lembrava-me muito bem daquele homem. Mais novo.
Não gosto destes almoços porque obrigam a actualizar imagens e a
aumentar subtractivos. Faço um esforço para focar apenas os olhos dos
vivos que guardo novos defendo-me do inevitável.
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