Era só para te desejar um bom dia. O breve silêncio fez-me adivinhar a resposta.
- Telefonaste-me para isso?
- Sim hoje foi para isto é o dia do pai fica sempre bem.
- Pois é, bom dia também para ti, também és pai.
Senti a aproximação.
Fui um filho ausente na vida do meu pai. Convivi apenas com a sua sombra. Vou dizer ao teu pai, ouvi muitas vezes lá em casa.
Era o rio que nos separava e me ligava a ele quando tocava a buzina da camioneta a avisar que estava a chegar. Habituei-me para a vida ao som e ao tempo que restava para vir a correr para casa. Nunca soube qual a dor que as palmas das suas mãos carregava. Estiveram sempre agarradas ao volante ou a fazer qualquer coisa. Nunca a olharem para mim.
Os pais são mais austeros do que as mães. Aprendi. Muitas vezes pergunto-me se é mesmo assim. O determinismo genético tem o seu auge no encontro do espermatozóide com o óvulo, depois disso é o meio que começa a agir sobre o feto. Não há mais intervalos nem descontos. É nesse meio que desenvolvemos factores de vulnerabilidade ou de protecção. Formam-se os princípios, a honra, o respeito, os defeitos, o amor. A ligação umbilical. É ai que está o meu pai.
Só quando ele morrer é que vou saber o que é a gravidade.
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