Esta historia tem apenas duas personagens. De seus nomes “minha vida” e
“vida do outro”. São personagens neutras de género, livres de etiquetas,
existências comuns mas expectativas contraditórias.
A “minha vida” é pretensiosa. Anda de olhos fechados com a certeza que sabe o caminho de cor porque é isso que o coração lhe diz. Mas a cabeça mostra que quando se caminha de olhos fechados, ainda que demos por certo o caminho sabido, são círculos que se desenham com os pés.
A “vida
do outro” sempre perturba a “minha vida” porque não dança de olhos
fechados a mesma música.
Quando não se sabe dançar no escuro pouco se
acerta de dia, pensa a “minha vida” que acredita que as coisas que
realmente importam são aquelas que a “vida do outro” vê, porque isso as
aproxima em tamanho.
Há coisas que a “minha vida” esconde da “vida do outro”. Coisas de personagem normal, comuns, que por a fazer sentir tão pequena, tornam-se estranhas. Não devia porque da mesma forma que fazemos luto por pessoas que não conhecemos também existe uma mágoa colectiva que todos escondemos.
Na minha rua havia uma senhora que cuidava das “vida do outro” que por ali andavam e lhe batiam à porta procurando curas para males que atraiçoam. Raramente a vi sair à rua porque para cuidar das “vida dos outros” não tinha tempo para cuidar da sua.
14/05/2020
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